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Mamografia: a importância do primeiro passo na identificação do câncer de mama

18 de outubro de 2019

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Mamografia: a importância do primeiro passo na identificação do câncer de mama

A mamografia salva vidas. Apesar de parecer um consenso, questionamentos nos fazem revisitar as principais razões da importância deste exame.

É verdade que o número de pacientes com câncer de mama aumentou nos últimos anos e temos acesso a essa variação justamente por conta do diagnóstico precoce. É claro que as mulheres estão vivendo mais, a população cresceu no mundo inteiro e, consequentemente, existe um número maior de diagnósticos. Um estudo publicado no New England Journal of Medicine, na última semana, mostra os diferentes tipos de câncer, incluindo gráficos que já são conhecidos pela classe médica em relação à queda da mortalidade por câncer de mama. Os tratamentos mais modernos, como cirurgias menos invasivas e com tempo mais curto de duração, tratamentos anti-hormonais, entre outros métodos inovadores, são práticas apontadas como as principais razões para essa redução. Para o primeiro passo do tratamento, a mamografia ainda é o melhor exame disponível para o diagnóstico precoce e, como sabemos, identificar o quanto antes a doença faz diferença.

Nem mesmo no SUS existe o questionamento em relação à importância da mamografia.

Relembramos que o próprio Ministério da Saúde recomenda, e os países do mundo desenvolvido e menos desenvolvido também apoiam a necessidade da realização do exame entre os 50 e 69 anos. Eventualmente, podemos nos deparar com casos de pacientes muito idosas, às vezes com um carcinoma in situ muito inicial, que pode não se manifestar clinicamente. Talvez seja o chamado “overdiagnosis”, com maior potencial de causar danos do que benefícios. Mas, em mulheres mais jovens, microcalcificações muitas vezes são agrupadas como pleomórficas, indicando o prenúncio de um câncer de mama inicial, não invasivo, não infiltrante e só quem pode rastrear é a mamografia. O ultrassom ou a ressonância não substituem.

Existe uma outra controvérsia se os exames devem ser feitos a cada dois anos ou um ano.

As sociedades médicas defendem um intervalo anual, enquanto outros grupos de epidemiologia acham que de dois em dois anos é um bom prazo. No Brasil, defende-se mais cedo a mamografia independente de algumas mulheres terem mama densa com menos de 50 anos, porque a média de diagnóstico do câncer aqui abrange uma idade mais jovem que a dos Estados Unidos, que lá é 62 anos aproximadamente. Já na Europa, a média é de pouco mais de 50 anos; então as pacientes devem começar o rastreamento 10 anos antes. Isso assegura que a dosagem de radiação que existe na mamografia é absolutamente desprezível e não coloca a saúde da paciente em risco.

A principal questão é em relação ao diagnóstico de carcinomas in situ, lesões chamadas não invasivas ou não infiltrantes, quando não é possível saber quem são as pacientes que vão de fato ter um câncer de mama mais agressivo posteriormente. Pela mamografia, não há como saber, do ponto de vista biológico hoje, se aquele carcinoma in situ pode ou não se tornar algo mais agressivo, que necessite de um tratamento como cirurgia ou quimioterapia. De modo geral, quando realizamos a mamografia, corremos o risco de algumas lesões parecerem suspeitas e a biópsia não confirmar malignidade, felizmente! Casos assim diminuem bastante com a mamografia digital e tomossíntese, mas o risco existe. Esse período de espera gera ansiedade e preocupação, no entanto ainda é mais fácil tratar um carcinoma in situ, é mais curável tratar de um câncer de mama pequeno de 1 cm ou menor do que um tumor palpável, ou do que uma lesão localmente avançada como acontece no SUS em quase metade dos casos das brasileiras que recebem diagnóstico na rede pública.

Por fim, um número que não podemos esquecer: 40% das pacientes no Brasil ainda chegam na rede pública com tumores muito avançados, inoperáveis.

Não oferecer a oportunidade de rastreamento é condenar mulheres a um risco maior de morte e isso é inaceitável.

Dr. Gilberto Amorim, médico oncologista do Conselho Científico da Fundação Laço Rosa.

Post em parceria com a Fundação Laço Rosa.

Só de ouvir, dá pra ver que é diferente.