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Março: mês de todas as mulheres?

26 de março de 2021

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Março: mês de todas as mulheres?

Acho que é ponto comum que o mês de março é dedicado às mulheres, sejam as mais engajadas que lutam por direitos e fazem a conscientização da importância da luta, seja daquela que deseja apenas uma flor. Aqui cabe um adendo, eu não estou julgando nenhuma das vertentes.

Não é incomum que eventos organizados pelas empresas que se ocupem de clichês, falas que estão totalmente fora da realidade. E em sua totalidade voltadas ao público cisgênero. Para as mulheres trans o mês de março acaba sendo um tormento.

Exclusão

O gatilho emocional está no seu ápice, “homenagens” que exaltam a maternidade, clichês sobre beleza e coisas parecidas são muito comuns. Não são raros os casos de mulheres trans que são simplesmente ignoradas nas promoções de estabelecimentos. Por exemplo sobremesa grátis para as mulheres no dia 8 de março e quando chega a conta elas são cobradas.

Isso demonstra uma crueldade institucional e ter de brigar sempre por coisas simples é muito comum. Não são raros os momentos que desistimos, apenas pagamos a conta e vamos embora. O sentimento de exclusão é perene, o sentimento de não pertencimento é uma realidade.

Presentes

Eu costumo falar que mais que flores, doces e presentes, eu gostaria de me sentir incluída, de não ter o sentimento de ter de brigar pelo mínimo. Eu simplesmente gostaria de ter meu pronome feminino respeitado. Gostaria de ser lembrada sem ter de brigar por isso.

A vida da pessoa trans é um eterno sentimento de solidão e medo. Sempre se sentir na obrigação de corrigir os outros é desgastante. Eu queria apenas ter um momento de paz, gostaria de ser respeitada. Queria poder ler uma chamada de parabéns a todas mulheres e me sentir representada.

Orgulho

Estou cansada de ser cota, de parecer que estão fazendo um favor para mim, e para outras pessoas trans quando somos lembradas. Gostaria de ser mais uma na multidão. Gostaria de ser lembrada como profissional e produtora de conteúdo. Ser lembrada como uma mulher que tem qualidades e defeitos

As pessoas acham que toda vez que somos apresentadas devem falar essa é minha amiga trans. Sério mesmo? Nunca vejo ninguém falar esta é minha amiga cis. Está mais que óbvio que sou uma pessoa trans, não preciso que digam o que sou como se em algum momento eu estivesse querendo enganar as pessoas. Ser trans é uma condição que me orgulha, e não o que me define e isso é um fato que gostaria que nunca fosse esquecido.

Fabris Martins, mulher trans, publicitária, designer e podcaster.