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Mês da visibilidade trans. Que visibilidade?

26 de janeiro de 2021

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Mês da visibilidade trans. Que visibilidade?

Em 2004, no dia 29 de janeiro, pela primeira vez na história do Brasil, travestis e transgêneros estiveram no Congresso Nacional para falar aos parlamentares brasileiros sobre a realidade e necessidades da população. Dessa forma foi instituído do DIA NACIONAL DA VISIBILIDADE TRANS no Brasil.

Desde essa data, muita coisa mudou, tivemos conquistas importantes: a maioria por meio de ações judiciais que chegaram ao STF. Nesses 17 anos, o parlamento pouco agiu principalmente pela transfobia e também por falta de representatividade. Nas últimas eleições municipais finalmente tivemos algumas vitórias importantes, mas é algo que precisa se confirmar em nível nacional.

Infelizmente grande maioria da população trans ainda é expulsa de casa e obrigada a sobreviver por meio da prostituição. Por outro lado, aos poucos vamos deixando de ser apenas seres fetichizados, alcançamos carreiras ditas “normais”, ou seja, publicitárias, professoras, programadoras, acadêmicas e doutoras em várias áreas.

Os números são assustadores, infelizmente a média de vida de uma pessoa trans é de 35 anos, a grande maioria dos ataques são a pessoas trans negras. Um dado que deve ser considerado nas estatísticas e trabalhado com urgência, pois segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais mais de 80% dos crimes contra pessoas trans são cometidos contra mulheres negras.

Na mídia, tivemos tímidas mudanças, o tema passou a ser tratado de uma forma mais respeitosa, cada vez mais se respeitam os nomes sociais de pessoas trans e travestis. Nas novelas e filmes, ganhamos alguma notoriedade, atrizes e atores trans estão fazendo papeis com mais importância.

Temos muito a avançar, ser lembrada apenas nesse mês é muito pouco, o Brasil é um país de dimensões continentais, as necessidades são inúmeras. O respeito ao nome social não pode ser uma imposição por causa da legislação, tem que se normalizar nossa existência. Devemos ocupar espaços comuns a todas, todos e todes. Sermos convidadas para falar de transfobia e mortes de pessoas trans é importante, mas não podemos ser restringidas a apenas isto.

Cada vez mais mostramos nossas qualidades e habilidades em todas as áreas, somos profissionais que se capacitam muito mais para sobressair dentro do mercado de trabalho. Quero relembrar, falamos também sobre cinema, economia, política, esportes e tudo que qualquer pessoa pode opinar.

Sermos diminuídas apenas a velhos clichês não ajuda nada. Visibilidade não é dar migalhas, é dar protagonismo. Enquanto isso não ocorre, seguimos na luta, saímos das sombras, mostramos nossa cara para o mundo, mostramos nossa capacidade e somos cada vez mais notadas e não apenas com notícias ruins, mas também como exemplos de superação.

Fabris Martins, mulher trans, publicitária, designer e podcaster.