Colunas Mulheres e Política

Mulheres na política importam?

2 de outubro de 2019

Mulheres na política importam?

Antes de iniciar nossa contribuição por mais mulheres na política, gostaria de compartilhar a minha motivação para este projeto. Sou consultora em relações governamentais com atuação maior nos poderes legislativos, tanto na união, quanto em estados e municípios. Dentro do meu escopo de trabalho preciso acompanhar o trabalho dos parlamentares e mapear aqueles que estão na área de interesse para pensar em uma estratégia, todos os dias analisamos o perfil de vários parlamentares que são em sua esmagadora maioria homens, brancos, grisalhos e ricos. Percebi também que as lideranças expressivas, os donos do poder de fato, têm os mesmos sobrenomes daqueles que estavam no poder desde a primeira república, outros desde o império. Quando andamos pelos corredores do Congresso encontramos um número expressivo de mulheres atrás dos holofotes, como sempre fomos treinadas, competentes, discretas e coadjuvantes. E em último lugar, mas não menos importante o assédio moral e sexual que sofremos diariamente de homens em posição de poder. 
Essa proposta de coluna aqui no Olhares tem como principal objetivo mudar essa realidade, e mostrar a importância da presença feminina nos espaços de poder.


Mulheres na política importam?

Porque precisamos ser e nos ver representadas?

A luta da mulher em prol dos seus direitos, da sua liberdade e posição social vem crescendo a cada dia mais, com isso surgem várias opiniões e visões sobre o papel feminino na sociedade. O movimento feminista tem como uma de suas várias vertentes a representação política da mulher e meu objetivo com essa série de artigos é informar, engajar, orientar e defender nossa representatividade.

Hoje as mulheres representam 52% do eleitorado no nosso país, mas isso não é espelhado no número de candidaturas e muito menos nos mandatos femininos. Foi nas eleições municipais em 2016, com a execução da política de cotas e recorte orçamentário, a primeira vez que conseguimos o maior número de candidatas mulheres, cerca de 30% (TSE).

Saiba também sobre iniciativas por mais mulheres na política com o projeto Me farei Ouvir

O pluralismo político é um dos princípios fundamentais assegurados na Constituição Federal, é um dos aspectos mais importantes na democracia, pois é a forma de garantir que todas as particularidades e representações sociais sejam ouvidas e tenha direito de voz, voto. Sendo assim, se temos assegurado o reconhecimento de que a sociedade é formada por vários grupos e todos eles têm direito a representação, mulheres na política importam.

A participação política no nosso país é realizada pela participação indireta: o voto. Entendendo que o objetivo principal e retorno do voto sejam as políticas públicas, o grupo mais impactado pelos resultados da urna são as mulheres, visto que somos nós quem mais precisamos dos equipamentos públicos como creches, escolas, centro esportivos, hospitais centros de assistência social, mobilidade urbana, delegacias especializadas…

Mas como assim são as mulheres que mais precisam?

O índice de famílias chefiadas por mulheres cresceu 105% de 2001 a 2015 quase 30 milhões. E mesmo dentro dos lares com “pai presente” a missão de cuidar da casa e dos filhos ainda é da mulher mesmo que ela também esteja inserida no mercado de trabalho. Para continuar trabalhando: ela precisa de creche. Para levar e buscar os filhos na escola: ela precisa de mobilidade urbana de qualidade. Quando os filhos adoecem ou precisa de cuidados médicos: ela precisa de hospitais e centros de atendimento, não só da estrutura, como também de equipe médica disponível.

E as delegacias especializadas?

Segundo o Fórum brasileiro de Segurança pública no ano de 2016, 1,6 milhões de brasileiras foram espancadas, estima-se que 52% dos casos não sejam denunciados. 37,1% passaram por algum tipo de assédio e a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil.

Nós mulheres somos criadas e responsabilizadas pelos espaços privados. Somos ensinadas ainda na infância a cuidar de todas as tarefas da casa, bem como também cuidar e educar as crianças, e com isso acabamos reproduzindo ainda hoje a definição desse papel para a mulher. Para quebrar esse ciclo de posição de servir precisamos da representação da mulher nos espaços de poder e decisão também nos espaços públicos. A mulher para além do espaço privado gera representatividade, essa é a principal forma de nos trazer pertencimento e engajamento para evidenciar e formar as lideranças femininas.

Como faremos para ter mais inserção da mulher nos espaços de poder?

Quebra da invisibilidade é (na minha humilde opinião) o primeiro passo.

Quantas já votamos em mulheres para todos os cargos eletivos? Ou quantas lembramos de alguma campanha feminina?

A busca por lideranças femininas precisa ser evidenciada e valorizada. Nas últimas eleições percebemos o descaso de partidos pela representatividade feminina contendo as famosas “candidaturas laranjas”. Eleger ou candidatar mulheres tem sido um desafio. Essa posição não vai ser dada.

A conta é simples para uma mulher entrar, um homem terá que sair.

Exemplo:

Hoje temos 5.570 municípios e apenas 12% dessas prefeituras são lideradas por mulheres, um total de 4902 prefeitos e 668 prefeitas.  Para conseguirmos representatividade e eleger mulheres em 50% dos nossos munícipios 2.117 homens precisam sair.

Mulher feminista e ativista pela representatividade feminina na política brasileira. Cientista Política por formação e consultora especialista em relações governamentais.