Colunas Para entender o feminismo

O 8M não é sobre flores

8 de março de 2020

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O 8M não é sobre flores

Se, no passado, o 8M era principalmente a celebração da mulher, essa data hoje está mais para um momento de concentração de pautas e reflexões sobre os caminhos do feminismo.

Chegamos a um 8M mais preocupado em incluir debates de mulheres cis e trans, urbanas e rurais, dos campos e das florestas, mães, lésbicas e bissexuais. Mulheres de movimentos sociais marginalizados, como sem teto e sem terra, mulheres ciganas, de povos tradicionais. O 8M acontece após o Primeiro Encontro Nacional das Mulheres sem Terra, e também acontece após a morte arbitrária de pessoas deste mesmo movimento pela polícia.

O 8M traz mais consciência de classe, o direito de ser livre do medo, mulheres voltadas à discussão dos direitos humanos e do desenvolvimento social. O 8M hoje é mais inclusivo, mas está longe de ser perfeito, mesmo tendo avançado muito.

Embora as pautas feministas pareçam ser as mesmas do passado, como a liberdade sobre o corpo, a liberdade de direitos sexuais e reprodutivos, igualdade de condições de trabalho, trabalho doméstico, maternidade, violências etc., a verdade é que esses temas sofreram profundas transformações ao longo das décadas de lutas de mulheres.

A Lei Maria da Penha serve de exemplo para explicar as mudanças: até início dos anos 2000, era muito baixo o reconhecimento da violência de gênero, em especial aquela praticada em ambientes domésticos. Hoje, ainda que esses índices sejam altos, parece existir uma melhor e maior compreensão social de que a prática dessas violências são proibidas e violam o que entendemos por dignidade da pessoa humana.

Falta avançar muito, mas o 8M serve como marco temporal para repensar o que foi e tem sido feito e as atitudes que devem ser priorizadas para a melhoria da qualidade de vida feminina.

Não é sobre flores, chocolates e presentinhos. Não é sobre homens homenageando o “equilíbrio da força e delicadeza” das mulheres. O 8M, Dia Internacional da Mulher, é sobre as 15 mil mulheres que marcharam nas ruas de Nova York por melhores condições de trabalho, em 26 de fevereiro de 1909. É sobre Clara Zetkin, que, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em agosto de 1910, propôs a criação de uma jornada de manifestações pela igualdade de direitos. É sobre 25 de março de 1911, quando 149 pessoas, a maioria mulheres, morreram no incêndio da fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, revelando as penosas condições nas quais trabalhavam as mulheres, muitas delas imigrantes e muito pobres. É sobre o grupo de operárias que saiu às ruas para se manifestar contra a fome e a Primeira Guerra Mundial, movimento que seria o pontapé inicial da Revolução Russa, no dia 8 de março de 1917. No Brasil, também é sobre as 536 mulheres agredidas a cada hora e as 1310 mulheres mortas por violência doméstica em 2019. A data que foi oficializada em 1975, ano que a ONU intitulou de Ano Internacional da Mulher, existe para lembrar nossas conquistas políticas e sociais. É sobre a luta diária que travamos até aqui e o quanto ainda estamos longe de conquistar pleitos de 110 anos atrás.

Só de ouvir, dá pra ver que é diferente.