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Por uma agenda feminista na política

19 de junho de 2020

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Por uma agenda feminista na política

O feminismo é uma pauta de ativismo social importantíssima, que se tornou um tema amplamente debatido nas últimas eleições.

Percebemos uma mudança nas formas de comunicação e informação que cada vez mais potencializam e propagam a mensagem de igualdade de gênero, fazendo com que meninas e mulheres empoderem-se e desenvolvam um olhar crítico com base nas questões de gênero.

O papel da mulher na sociedade, por muito tempo, foi restringido e direcionado aos cuidados domésticos, propagando o imaginário de fragilidade e delicadeza feminina. Comentários ofensivos e misóginos marcaram, e ainda marcam, a trajetória de mulheres que se destacam em papéis de liderança e que não são reconhecidas por seu profissionalismo e dedicação. Estas mulheres têm seu desempenho comparado ao de homens de forma pejorativa, numa tendência de masculinizar sua imagem para atingirem a mesma performance. E quando o desempenho não é bom, o foco da culpa é o gênero e comentários como “isso não é trabalho pra mulher” se tornam mais frequentes.

Sociedade e política não se separam

A luta das mulheres teve início com demandas pontuais e hoje se faz presente em inúmeros seguimentos sociais relacionados não só ao papel da mulher na sociedade, mas também aos direitos das minorias, à proteção da criança, ao desenvolvimento e acesso à educação, saúde e assistência social, acesso a água, saneamento básico e moradia digna, segurança pública e liberdade, dentre outras tantas políticas públicas que impactam diretamente no cotidiano das mulheres e em responsabilidades impostas socialmente. Com isso, o feminismo entrou, para ficar, na agenda pública.

Por ser uma característica que pode complicar e prejudicar a imagem de um candidato, o machismo precisa ser discutido dentro da pauta eleitoral, pois além de ser uma prática que hoje é combatida pelas feministas, nenhum candidato quer ter sua campanha marcada por comportamentos, falas, gestos e/ou atitudes que coloquem um selo de práticas machistas.

O machismo ainda é a maior barreira

As eleições de 2018 demonstraram vários desafios que as mulheres ainda precisam superar para conseguirem ser mais competitivas politicamente. Não só as candidaturas chamadas “candidaturas laranjas”, mas a dificuldade de se aprender a organizar politicamente, seguir regras eleitorais, a própria organização interna do partido, a invisibilidade feminina e até o uso da figura da mulher para fortalecer a imagem de candidatos homens são formas de conservar e alimentar a dinâmica de proteção de poder já existente na política. A entrada de mulheres representa, não só uma maior competição para os homens que já estão na política, mas uma ameaça.

O voto feminino, hoje, representa mais da metade do eleitorado brasileiro. Reconhecendo esse dado, os candidatos precisam, sim, de eleitoras para atingir o número de votos necessários para serem eleitos e tudo o que eles não querem, são mulheres candidatas para disputar esse eleitorado feminino.

Mulheres são maioria do eleitorado brasileiro – Fonte: TSE

Mas mulheres ainda não votam em mulheres

Fazer uma campanha levando a pauta feminista e concentrar o voto feminino não é uma realidade. Para além de todas as legitimadas questões centrais do feminismo, em primeiro lugar, as práticas machistas devem ser combatidas de maneira global. Fora isso, ainda deve-se considerar que as demandas de uma mulher branca, escolarizada e de classe média são diferentes das que se referem a mulheres negras, de baixa escolaridade e pobres, ou seja, mulheres convergem em temas pontuais e muitas demandas comuns, mas suas necessidades e anseios sociais não podem ser considerados ideologicamente uniformes.

Quando escolhemos um candidato, é importante procurar votar em mulheres, contudo, nem sempre é possível eleger uma candidata que pelo menos esteja comprometida com a defesa de direitos e demandas das mulheres no espaço público. Por isso, é importante a participação política constante, realizando um trabalho de base, para que mulheres possam se sentir empoderadas para exercer sua cidadania e serem votadas.

Precisamos de mais candidatas

Mulheres na política representam transformação social, impactando, não só na tomada de decisões e na formulação e implementação de políticas públicas, mas também na maneira como recursos são alocados e as dinâmicas informais da política. Apoiar essas candidatas, não é apenas cumprir com os números, é fortalecer a democracia.

A campanha política inicia em espaços de discussão que nem sempre são as arenas institucionais: envolver-se em questões comunitárias ou em ambientes de debate de determinadas pautas é o primeiro passo para ingressar e fazer política. Aqui, nesse texto, compreenderemos a campanha como o período pré-eleitoral e eleitoral que, geralmente, vai de março a outubro.

Para vencer a eleição é preciso vencer o machismo

Elaborar uma campanha abrange estratégia de comunicação, projetos e propostas para desempenhar em caso de vitória e, principalmente, desenvolver o relacionamento com o eleitor, que é o famoso “pedir voto”, em eventos na rua, na internet etc.

Além dos desafios que já citamos na última eleição, várias candidatas tiveram outros adicionais, como o assédio, olhares indiscretos e comentários violentos.

“Você me dá um beijo se eu votar em você?”

“Feministas merecem tortura”

 “O que o seu marido acha disso?”

“Que egoísmo entrar na política tendo uma filha pequena”

Estes comentários são apenas alguns dos exemplos de questionamentos que apenas candidatas, do sexo feminino, enfrentam no processo eleitoral, e que demostram o machismo estrutural refletido também nas estruturas políticas do país. Enquanto a igualdade de homens e mulheres no recorte eleitoral não for uma realidade, as mulheres continuarão expostas a todas as formas de violência dentro e fora da política.

Só de ouvir, dá pra ver que é diferente.