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Série: Coisa mais linda – Netflix

2 de abril de 2019

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Série: Coisa mais linda – Netflix

Rio de Janeiro, década de 50. Uma atmosfera de boemia alimentada pelas vistas idílicas da cidade e costuradas pela música que se tornou parte da identidade do Brasil: a bossa nova. Neste cenário, se desenrola Coisa Mais Linda, a nova série brasileira da Netflix, dirigida por Caito Ortiz, Hugo Prata e Julia Rezende, disponível na plataforma de streaming desde 22 de março.

Neste cenário, se desenrola Coisa Mais Linda, a nova série brasileira da Netflix, dirigida por Caito Ortiz, Hugo Prata e Julia Rezende, disponível na plataforma de streaming desde 22 de março.

Maria Luíza (Maria Casadevall), uma socialite paulistana, decide abrir um restaurante no Rio de Janeiro com o marido, mas ao chegar à cidade se depara com uma ingrata surpresa: ele havia fugido com outra mulher levando todo o seu dinheiro. Perdida, se vê diante da possibilidade de não conseguir concretizar o sonho, e em seu caminho aparecem as mulheres que a ajudam a se reerguer: Lígia (Fernanda Vasconcellos), sua amiga de infância e cantora talentosa; Adélia (Pathy Dejesus), mulher negra, favelada e humilhada pela patroa constantemente; e Thereza (Mel Lisboa), mal vista pela sociedade por trabalhar e ser independente de seu marido.

À parte algumas falhas técnicas que enfraquecem a produção, a história das quatro protagonistas traz visibilidade para discussões extremamente necessárias atualmente – tanto que muitas de suas falas podem ser facilmente encontradas em discursos que ouvimos hoje.

Uma mãe deixar seu filho com os pais por algum tempo para trabalhar e ouvir que “o abandonou”; uma mulher ser tratada como bibelô pelo marido, impedida de seguir uma carreira, obrigada a fazer sexo contra sua vontade – ou seja, ser estuprada – sofrer mais agressões físicas sob o argumento de que “fiz isso porque te amo”; ser colocada em posição de subalternidade pela sua aparência e ter que lutar constantemente pelo reconhecimento como pessoa, antes de qualquer outro direito; a dedicação em ingressar no mercado de trabalho ser encarada como um capricho ou consequência de um marido fraco, que não controla sua mulher. Ter sua existência resumida a agradar o marido e procriar. Ter seus direitos condicionados a anuência de um homem, seja um pai, irmão ou marido.

Tais recortes são apresentados sem pudores na série, lançando luz sobre questões de raça, classe, orientação sexual e, principalmente, ao papel reservado às mulheres na sociedade brasileira, com o choque indigesto de que não evoluímos tanto quanto poderíamos de 60 anos para cá. Sua força vem exatamente de trazer essa reflexão ao público mais jovem, fortalecendo as pautas do Feminismo e suas intersecções e a urgência de as tratarmos com mais seriedade e responsabilidade.