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Chute no preconceito

19 de abril de 2021

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Chute no preconceito

Vocês já perceberam que quando mulheres fazem a transição, são cobradas a exercer atividades predominantemente dito femininas? São obrigadas a externar um “superfeminino” acaba que elas não podem manter traços e gostos da “antiga vida” pois é algo que não pertence mais.

Um exemplo é o gosto por esportes, mais precisamente o futebol, imagina você que era uma pessoa fanática, ia a jogos, frequentava grupos de discussão, algumas pessoas imaginam que, apenas por transicionar, deve-se parar de fazer tais atividades. Saiba que isso não é uma verdade, saiba que há sim mulheres que amam e vivenciam o esporte, ter um pensamento de exclusão é machismo em vez de abandonar seu time, abandone velhos conceitos.

Eu durante meu processo me vi com essa indagação, como poderia ser reconhecida como mulher se ainda vivencio o futebol de forma tão intensa? A primeira coisa foi  demonstrar que isto não tinha interferência, que era um preconceito irracional e machista. Com minhas postagens no twitter encontrei mulheres maravilhosas que tinham minha paixão e me acolheram.

Com esse acolhimento surgiu amizade e convite para um projeto: um canal de mulheres que estavam cansadas de serem cotas, que estavam cansadas de estar apenas fazendo figuração, mulheres que tem conteúdo, que tem vivência e que podem falar sim do esporte com muita propriedade diga-se.

No momento de discussão do nome, resolvemos homenagear DULCE ROSALINA, uma torcedora histórica, que representou as mulheres nas torcidas organizadas com protagonismo e liderança. Quando muitas nem tinham o direito de ir ao estádio, Dulce estava ocupando seu espaço. Eis que foi natural surgir o nome ROSALINAS em homenagem a esta incrível mulher.

Paralelamente eu vivia um dilema, ficar nos bastidores, ou pôr a cara a tapa, mostrar a que viemos, a resposta foi dada. Sim teríamos uma mulher trans pela primeira vez em um canal que trata exclusivamente sobre um clube de futebol. Os medos existiram, principalmente da rejeição, tive medo, mas seguimos em frente.

Já falei aqui sobre várias questões, uma sempre comentada é a invisibilidade de pessoas trans, e como devemos ressignificar e angariar espaços. É muito comum vivermos apenas nosso momento, estarmos preocupadas com questões internas e esquecermos que não somos isoladas e que existe um mundo lá fora.

Ter aparecido para o mundo, em alguns jornais, e até mesmo na TV oficial do VASCO DA GAMA mostra que não estava errada. Nós devemos mostrar que existimos, claro, haverá momentos de transfobias, mas o que importa que nós existimos e resistimos, seja no YouTube, em matérias de jornal, ou qualquer outro espaço. Precisamos estar presentes e não termos medo de ocuparmos espaços.

Fabris Martins, mulher trans, publicitária, designer e podcaster.