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Douglas: Maduro, ágil e provocativo

10 de junho de 2020

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Douglas: Maduro, ágil e provocativo

O humor ácido e surpreendente de Hanna Gadsby está de volta à Netflix.

Alerta de spoiler: O texto abaixo contém leves spoilers, recomendo ver na Netflix e somente assim vir ler essa resenha. Caso você não se importe, pegue o assento de sua preferência e vem comigo. Sendo assim vamos ao que interessa.

O ano era 2018 e a comediante Hannah Gadsby surpreende o mundo com um stand up de tirar o fôlego, a quebra que ela faz partindo de um humor ácido até chegar a um momento dramático de sua vida deixa todas(os) impactadas(os).  A visão de mundo e de sua própria existência colaboram para que ganhe notoriedade e seja considerado um sucesso de crítica. Ganhando inclusive um Emmy na categoria melhor roteiro para um especial.

Falei sobre Nanette aqui no Olhares

Tendo feito esta breve introdução, vamos ao novo show de Hanna, dessa vez denominado Douglas. Ela já começa desconstruindo as esperanças do público dizendo que não será um Nannete 2.0, mas sim algo totalmente diferente e que está surpresa por tanta gente estar ali mesmo sem saber do que se trata.

Humor, autismo e movimento anti-vacina?

O trabalho como ela desconstrói a hipocrisia dos haters tem um propósito, ela simplesmente usa isso, nas palavras dela, como anticorpos, e daí já pula para um dos principais alvos da peça, os movimentos anti-vacina. Isso mesmo, num momento de pandemia e que uma vacina é tão desejada, ela vai no ponto. No caso dela atacando o principal argumento desses grupos histéricos que acusam o procedimento de causar autismo.

Eis que nossa “heroína” em mais uma reviravolta expõe que ela mesma tem autismo, e, portanto, tem lugar de fala para contrapor tais argumentos. Ela o faz com energia e uma dose de audácia pois o tempo todo controla e desafia o público, no qual estatisticamente, deve haver alguém do movimento contra vacinas.

Hanna tem alvos bem definidos

A retórica sempre invejável, momentos de auto depreciação são normais, e isso faz parte de sua estratégia. Outra característica que ela repete é expor seu conhecimento em relação a história da arte, algo que ela o faz através de obras de arte famosas e até mesmo citando Wally, Tartarugas Ninja e Louis CK.

Sem parecer clichê ela desconstrói mitos do patriarcado, provoca o americano de meia idade e sempre com um gostinho de que poderia ir além, mas sabe dosar, como uma pescaria na qual você vai dando linha e recolhendo o tempo todo. Isso deixa tudo bem dinâmico, seja pra quem está vendo ao vivo, ou para quem está no streaming assistindo, sua dinâmica às vezes deixa o público sem reação.

E por que Douglas?

Você chegou até aqui (obrigada) em busca do significado do nome do show vai se decepcionar, pois acho melhor você descobrir por si mesma. Se você já viu estará rindo comigo, caso não tenha visto vai se surpreender. Até a próxima e te vejo no futuro.

Hannah Gadsby: Douglas (2020)

Comédia – 1h12 min.

Especial de TV para Netflix

Fabris Martins, mulher trans, publicitária, designer e podcaster.