Cultura e Feminismo

Mulheres em tempos sombrios: 7 autoras para ler durante a pandemia

24 de julho de 2020

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Mulheres em tempos sombrios: 7 autoras para ler durante a pandemia

Ficar em casa e manter o isolamento social, além de ser uma estratégia para evitar a propagação do coronavírus, também pode ser uma oportunidade para colocar a leitura em dia e mergulhar naquele livro que há tempos está na sua lista, ou criar uma nova. 

Nossa lista desse mês traz sugestões de autoras feministas, anticapitalistas e premiadas que, além de serem ótimas companhias enquanto a pandemia não passa, proporcionam insights revolucionários para pensar o mundo – e o feminismo – pós-covid. 

História e análise de conjuntura: 

1. Silvia Federici – Calibã e a Bruxa 

Sinopse: As acadêmicas feministas desenvolveram um esquema interpretativo que lança bastante luz sobre duas questões históricas muito importantes: como explicar a execução de centenas de milhares de “bruxas” no começo da Era Moderna, e por quê o surgimento do capitalismo coincide com essa guerra contra as mulheres. Segundo esse esquema, a caça às bruxas buscou destruir o controle que as mulheres haviam exercido sobre sua própria função reprodutiva, e preparou o terreno para o desenvolvimento de um regime patriarcal mais opressor. Essa interpretação também defende que a caça às bruxas tinha raízes nas transformações sociais que acompanharam o surgimento do capitalismo.  

2. Sabrina Fernandes – Sintomas Mórbidos: A encruzilhada da esquerda brasileira 

Sinopse: O título do livro Sintomas Mórbidos: A encruzilhada da esquerda brasileira, escrito pela socióloga, feminista e uma das youtubers mais radicais à esquerda nas redes, Sabrina Fernandes, remete ao interregno pensado pelo revolucionário italiano Antonio Gramsci na famosa passagem do seu Cadernos do Cárcere: “o velho está morrendo e o novo não pode nascer; neste interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece”. Isso se encaixa como uma luva no Brasil contemporâneo depois do verdadeiro terremoto político causado pelas manifestações de Junho de 2013 e seus ecos. O equilíbrio desequilibrado que sustentava a frágil democracia liberal brasileira, aparentemente, se desfez. Como consequência, temos um perturbador entretempo: de fragmentação das esquerdas e ascensão da extrema-direita — sobre o qual Sabrina Fernandes disserta, por uma perspectiva marxista, apresentando a noção crise de práxis como uma chave para o entendimento do que se passa, ao passo que possibilita (e mira!) na superação da pós-política e da ultrapolítica e na construção de uma utopia concreta e realizável, fator crucial na revolução necessária do nosso porvir. 

3. Angela Davis – Mulheres, raça e classe 

Sinopse: Mais importante obra de Angela Davis, “Mulheres, raça e classe” traça um poderoso panorama histórico e crítico das imbricações entre a luta anticapitalista, a luta feminista, a luta antirracista e a luta antiescravagista, passando pelos dilemas contemporâneos da mulher. O livro é considerado um clássico sobre a interseccionalidade de gênero, raça e classe. A perspectiva adotada por Davis realça o mérito do livro: desloca olhares viciados sobre o tema em tela e atribui centralidade ao papel das mulheres negras na luta contra as explorações que se perpetuam no presente, reelaborando-se. O reexame operado pela escrita dessa ativista mundialmente conhecida é indispensável para a compreensão da realidade do nosso país, pois reforça a práxis do feminismo negro brasileiro, segundo o qual a inobservância do lugar das mulheres negras nas ideias e projetos que pensaram e pensam o Brasil vem adiando diagnósticos mais precisos sobre desigualdade, discriminação, pobreza, entre outras variáveis.  

4. Svetlana Aleksiévitch – O fim do homem soviético 

Sinopse: O povo russo assistiu com espanto à queda do Império Soviético. A política de abertura do governo Gorbatchóv impôs uma mudança drástica da estrutura social, do cotidiano e, sobretudo, da direção ideológica da população. Em O fim do homem soviético, Svetlana Aleksiévitch, escritora e jornalista bielorrussa vencedora do Nobel de Literatura 2015, examina a vida das pessoas afetadas por essa transformação. Em cada personagem está um pouco da história russa – a mãe cuja filha morreu em um atentado; a antiga funcionária do Partido Comunista que coleciona carteiras abandonadas de ex-filiados; o velho militante que passou dez anos em um campo de trabalhos forçados. O livro traz um painel fantástico de russos de todas as idades que se movem entre a possibilidade de uma vida diferente e a derrocada da sociedade que conhecem. Considerada cronista implacável da União Soviética, Svetlana Aleksiévitch é uma das raras autoras de não ficção premiadas com o Nobel de Literatura. 

Romance: 

5. Elena Ferrante – A amiga genial 

Sinopse: Elena Ferrante se tornou conhecida por escrever sobre questões íntimas com muita clareza, sem se expor para divulgar seus livros. Sua ficção parece apresentar traços autobiográficos, mas não é possível identificar os pontos comuns entre sua vida e sua obra, uma vez que a escritora se recusa a comentar sua intimidade. A Série Napolitana, formada por quatro romances, conta a história de duas amigas ao longo de suas vidas. O primeiro, A amiga genial, é narrado pela personagem Elena Greco e cobre da infância aos 16 anos. As meninas se conhecem em uma vizinhança pobre de Nápoles, na década de 1950. Elena, a menina mais inteligente da turma, tem sua vida transformada quando a família do sapateiro Cerullo chega ao bairro e Raffaella, uma criança magra, mal comportada e selvagem, se torna o centro das atenções. Essa menina, tão diferente de Elena, exerce uma atração irresistível sobre ela. As duas se unem, competem, brigam, fazem planos. Em um bairro marcado pela violência, pelos gritos e agressões dos adultos e pelo o medo constante, as meninas sonham com um futuro melhor. Mais que um romance sobre a intensidade e complexa dinâmica da amizade feminina, Ferrante aborda as mudanças na Itália no pós-guerra e as transformações pelas quais as vidas das mulheres passaram durante a segunda metade do século XX. Sua prosa clara e fluída evoca o sentimento de descoberta que povoa a infância e cria uma tensão que captura o leitor. 

6. Chimamanda Ngozi Adichie – Hibisco roxo 

Sinopse: Protagonista e narradora de Hibisco roxo, a adolescente Kambili mostra como a religiosidade extremamente “branca” e católica de seu pai, Eugene, famoso industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente a vida de toda a família. O pavor de Eugene às tradições primitivas do povo nigeriano é tamanho que ele chega a rejeitar o pai, contador de histórias encantador, e a irmã, professora universitária esclarecida, temendo o inferno. Mas, apesar de sua clara violência e opressão, Eugene é benfeitor dos pobres e, estranhamente, apoia o jornal mais progressista do país. Durante uma temporada na casa de sua tia, Kambili acaba se apaixonando por um padre que é obrigado a deixar a Nigéria, por falta de segurança e de perspectiva de futuro. Enquanto narra as aventuras e desventuras de Kambili e de sua família, o romance também apresenta um retrato contundente e original da Nigéria atual, mostrando os remanescentes invasivos da colonização tanto no próprio país, como, certamente, também no resto do continente.  

7. Margaret Atwood – O conto da aia 

Sinopse: O romance distópico O conto da aia, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. Uma das obras mais importantes da premiada escritora canadense, conhecida por seu ativismo político, ambiental e em prol das causas femininas. O conto da aia foi escrito em 1985 e inspirou a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original), produzida pelo canal de streaming Hulu em 2017. As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado. Com esta história assustadora, Margaret Atwood leva o leitor a refletir sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente.  

Bônus 1: Hannah Arendt – Homens em tempos sombrios (A autora que inspirou o nome dessa lista não poderia ficar de fora) 

Sinopse: Este livro reúne ensaios biográficos de homens e mulheres que viveram os “tempos sombrios” da primeira metade do século XX, marcados pela emergência do totalitarismo na forma do nazismo e do stalinismo. Mergulhando em mundos internos tão díspares como os de Hermann Broch e João XXIII, Rosa Luxemburgo e Jaspers, Isak Dinesen e Bertold Brecht, Heidegger e Walter Benjamin, Hannah Arendt submete a uma reflexão apaixonada, e por vezes implacável, os erros e acertos dessas personalidades, suas culpas e vitórias, responsabilidades e irresponsabilidades perante a realidade que enfrentaram. A beleza destes relatos reside na sólida crença de Arendt na solidariedade e dignidade humanas, valores morais capazes de impedir o triunfo do niilismo e do totalitarismo numa época de experiências catastróficas. O volume traz também um posfácio de Celso Lafer com um perfil de Hannah Arendt. 

Bônus 2: Paul Frölich – Rosa Luxemburgo: Pensamento e Ação (Neste caso, é um autor, mas a biografia dessa revolucionária polonesa-alemã merece demais entrar nessa lista) 

Sinopse: Escrita por Paul Frölich e publicada originalmente em 1939, é considerada ainda hoje uma obra de referência indispensável. Paul Frölich (1884-1953) participou, com Rosa Luxemburgo, da fundação do Partido Comunista Alemão em 1919. Nos anos 1920 ele será encarregado, pelo Partido, da publicação das obras completas de Rosa Luxemburgo. O livro de Frölich apresenta, com grande inteligência e empatia, a apaixonante vida da filósofa e economista marxista: sua juventude na Polônia, os estudos em Zurique, a emigração para a Alemanha, a relação afetiva e erótica com Leo Jogiches, a luta pelas ideias marxistas na social-democracia alemã, a participação na revolução russa em Varsóvia, os anos de prisão na Polônia e, durante a guerra, na Alemanha, em 1919, seu assassinato pelos bandos militares pré-fascistas trazidos para Berlin pelo ministro social-democrata Noske. Frölich analisa também, com grande acuidade, seus principais escritos: A acumulação do Capital (1913), sua grande obra de economia política, a famosa Brochura de Junius (A crise da social-democracia) de 1916, onde aparece a fórmula ‘socialismo ou barbárie’, a crítica (construtiva) aos bolcheviques em A Revolução Russa (1918), e os últimos escritos durante o levante spartakista de 1919. A vida e a obra de Rosa Luxemburgo se caracterizam pela extraordinária unidade entre pensamento e ação, teoria e prática, conhecimento científico e compromisso com a luta dos oprimidos 

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Jornalista, feminista e "anticapetalista"