Retrospectiva 2018 (Parte 01): Do Carnaval à Copa
2018 começou intenso. Olhando em retrospectiva, janeiro já chegou anunciando um ano nada fácil, mas ainda assim, dia a dia, mês a mês, a cada notícia uma pergunta tornava-se constante: O que mais falta acontecer?
Em JANEIRO, tivemos manifestações no Globo de Ouro contra o assédio (Discurso da Oprah, VRÁ da Natalie Portman), o Fórum Econômico Mundial presidido por mulheres pela primeira vez em 48 anos, e a primeira diplomata brasileira negra. Opa! Começamos bem, mas… pera. No Brasil, enquanto o ministro da Educação homologava o uso do nome social nas escolas, uma antiga reivindicação dos grupos LGBTQ, um MC lançava seu funk com apologia ao estupro – felizmente, o Spotify teve mais bom senso e excluiu o sem noção da plataforma.
Aí veio FEVEREIRO, o mês do Carnaval, marcado por manifestações brilhantes e coloridas, entre plumas e paetês; volta às aulas na UnB com uma disciplina sobre o Golpe de 2016 (que viralizou e ganhou outras universidades no Brasil e pelo mundo) e uma grande conquista no judiciário que deve afetar cerca de quatro mil mulheres em todo o país: STF concede Prisão Domiciliar para presas grávidas, lactantes ou com filhos de até 12 anos. Mas como nem tudo é festa, também tivemos casos de abusos e truculências protagonizados por policiais e juízes, como o caso da Juíza Laurita Vaz, que negou o pedido de uma lactante e da mulher que ficou detida com sua bebê de três dias em uma cela suja e minúscula.
Como não poderia ser diferente, MARÇO foi um mês fértil para as pautas feministas. Por causa do Dia Internacional da Mulher, no dia 8, muito se falou e fez para visibilizar a situação da mulher em diferentes esferas nos quatro cantos do planeta e nós do Olhares também fizemos a nossa parte, ajudando a divulgar alguns dos muitos estudos que foram lançados no período:
- Levantamento do Unicef
- Mulher e mercado de trabalho
- “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil” do IBGE
- Criação do Comitê de Defesa da Mulher
- Dossiê Lesbocídio
- Índices sobre ações de violência doméstica
- Sobre nossa justiça machista
- Machista passando vergonha: Itaú e Microsoft
- Cai o número de abortos (graças aos países onde há descriminalização)
- Relatório global sobre abortos
- Decisão STF sobre nome social de transgêneros e transsexuais
- Mulheres ensinando programação: Soraya Roberta dos Santos e Podcast Podprogramar
- Oscar e o termo Inclusion Rider
Foi também no Mês da Mulher que o assassinato político de Marielle Franco e seu motorista Anderson Pedro Gomes, na noite de 14/03/2018, no Estácio, centro do Rio de Janeiro, nos mutilou. A notícia chegou cortante, nos deixando estarrecidas, com um gosto amargo na boca e a sensação de impotência que tivemos e temos que lutar para superar nos dias que vão seguindo sem respostas.
E seguimos por ABRIL, com o Palácio do Planalto desviando parte da verba destinada às políticas de combate à violência contra a mulher para a Secretaria de Comunicação da Presidência; enquanto no Canadá, pedestres (maioria mulheres) foram atropeladas em uma calçada de Toronto por um terrorista “INCEL” – termo criado por eles que quer dizer “celibatários involuntários”, isto é, machos que não conseguem fazer sexo e culpam as mulheres porque né, pra que autocrítica se você foi educado pra acreditar que as mulheres existem exclusivamente pra te satisfazer? – O resultado foram dez pessoas mortas e treze feridas. Mas também foi um mês de conquistas: a seleção feminina de futebol conquistou o heptacampeonato da Copa América para o Brasil (embora nenhum canal de televisão brasileiro tenha transmitido), os eleitores transgêneros e travestis conquistaram o direito de usar nome social, e a Islândia tornou ilegal diferença de salários entre homens e mulheres.
Na política, na arte, no esporte, na luta pelo direito à terra. No Cadê as Feministas de MAIO, falamos sobre a presença das mulheres nos diferentes espaços de poder, mas também mostramos o quanto ainda é difícil avançar, quando a política e a justiça ainda estão tão permeadas pelo machismo tóxico de cada dia. Entre os destaques do mês, tivemos Justiça para Lola Aronovich; a história de Marvia Malik, a primeira âncora transgênero do Paquistão; o protesto das estrelas do Festival de Cannes por igualdade salarial; a decisão da Academia Sueca de cancelar o Prêmio Nobel de Literatura 2018, após se deparar com um escândalo sexual de grandes proporções envolvendo membros influentes da instituição; a violação de direitos de quilombolas pelo Incra (que deveria defendê-los) e a soltura do mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang.
Fechando o primeiro semestre, em JUNHO tivemos o lançamento de mandato coletivo feminino em São Paulo; a aprovação de licença-paternidade para avós na Câmara dos Deputados; a primeira mulher latino-americana eleita para a presidência da assembleia geral da ONU; e o caso de manterrupting no Roda Viva que trouxe à tona três tipos bem comuns de violências simbólicas: o machoexplicando, o machointerrompendo e o machoocupando. Foi também neste mês que a Secretaria de Política para Mulheres foi transferida para o Ministério dos Direitos Humanos por decreto e a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Congresso aprovou texto que torna a importunação sexual um crime previsto no Código Penal. Pelo mundo, às mulheres sauditas foi garantido – em pleno 2018 – o direito de dirigir.
Nós também estivemos bem atentas à COPA DO MUNDO 2018.
Confira o clipping especial:
Aquecimento:
Cobertura:
Torcida:
Primeiro tempo:
Cartão Amarelo
Impedimento
Olha o escanteio
Acaba o primeiro tempo
Segundo Tempo
Prorrogação
Balanço final
- Fare Network registra 45 casos de sexismo e assédio
- FIFA aplica R$ 2,6 milhões em multas, mas também passa pano
- E ainda teve macho passando vergonha.
Encerramento da copa