Filme: Para todos o garotos que já amei (2018)
No último ano a Netflix tem investido bastante em conteúdos para o público adolescente, tanto com produções próprias quanto na inserção no catálogo de filmes, séries e remakes. Costumo assistir a alguns desses materiais para saber o que as gerações mais jovens estão consumindo, quais ideias estão sendo construídas e como podemos dialogar com eles. De forma geral, têm sido frustrante ver que muitos conceitos sobre papéis de gênero que tanto trabalhamos para desconstruir ainda são reforçados nessa fase tão vulnerável.
Em um desses dias, me deparei com uma grata surpresa: o filme “Para todos os garotos que já amei”, adaptação do livro de mesmo nome de Jenny Han; mesmo não fugindo muito dos clichês do gênero, consegue contar uma história leve, divertida, bonitinha, empoderada e nem tão previsível quanto poderia.
Lara Jean Song Covey, nossa protagonista, é descendente de coreanos com pai americano – e já ficamos satisfeitas com a escolha de uma atriz fora dos padrões caucasianos de Hollywood, já que essa característica não é decisiva para a construção da personagem – e uma garota tímida e discreta, reservada mesmo com suas irmãs, cujo relacionamento é de muita amizade e confiança. Com tal personalidade, a forma que ela encontrou para lidar com seus sentimentos foi escrevendo cartas apaixonadas endereçadas aos crushs, sem nenhuma intenção de entregá-las. No entanto, essas cartas acabam chegando às mãos dos rapazes e colocando Lara Jean em uma grande confusão envolvendo seu melhor amigo e ex-namorado de sua irmã e o quase ex-namorado de sua ex-melhor amiga – os principais ingredientes de um bom drama adolescente.
A história se desenrola respeitando a dimensão dos dilemas socioemocionais de jovens colegiais, sem infantilizar seu sofrimento e imaturidade naturais nesta fase da vida. Além disso, apesar de trazer personagens masculinos com destaque para a trama, o protagonismo não sai das personagens femininas, bem diferentes entre si, empoderadas, conscientes de suas fragilidades, firmes em suas decisões e capazes de colocar a sororidade acima do drama romântico – e exemplos como esses são os que precisamos.