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8 de março: onde estamos?

8 de março de 2021

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8 de março: onde estamos?

A data de hoje, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é uma data que me deixa incomodada.

Enquanto tento organizar as ideias para dar cabo à missão de traduzir em palavras o significado deste dia, ele já começa com aquelas tradicionais mensagens com flores e corações que tentam nos dizer quem somos, ou como deveríamos ser para merecer a “homenagem”.

Mais importante que tentar definir o que são mulheres, precisamos discutir onde estão as mulheres.

No mercado, 60% das empresas não possuem mulheres nos altos cargos de liderança e, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, o mundo levará 99 anos e meio para acabar com a lacuna da igualdade de gênero, se continuar no no ritmo atual.

No Brasil, apenas 13% das empresas têm mulheres como CEO. E, segundo a ONU, o país é o 107° no ranking sobre diferença de renda entre mulheres e homens: em 2019, nós recebemos o equivalente a 58% da renda dos homens

A situação piora para mulheres negras e mães. De acordo com o IBGE, o nível de ocupação de mulheres de 25 a 49 anos com crianças de até três anos em casa é de 54,6%, enquanto o das que vivem em domicílios sem crianças nessa faixa etária é 67,2%.

Menos da metade (49,7%) das mulheres pretas ou pardas com crianças de até três anos estavam trabalhando fora de casa em 2019, quando a pesquisa foi feita.

Vale destacar que os dados se referem a um período anterior à pandemia, que sabemos que aumentou a vulnerabilidade das mulheres.

Ainda de acordo com a pesquisa mais recente do IBGE, em 2019, as mulheres dedicaram, em média, 21,4 horas semanais aos cuidados de pessoas e afazeres domésticos contra 11 horas dos homens — trabalho raramente remunerado.

Já entre pessoas trans, o emprego formal ainda é praticamente exceção no Brasil.

Na política, a falta de representatividade é sintomática.

Partidos ignoram lei de apoio à inclusão feminina e apenas dois cumpriram todos os anos com a exigência de aplicar 5% do Fundo Partidário em programas de participação das mulheres na política.

Isso sem falar no ambiente hostil e no assédio legitimado, como bem ilustrado no caso da deputada estadual Isa Penna (PSOL)

Para 2022, nenhuma perspectiva de melhora: em um cenário de fragmentação na disputa pela cadeira ocupada por Jair Bolsonaro (sem partido), as mulheres sumiram da lista. Contando o candidato à reeleição, ao menos 12 homens constam nas principais tabelas de apostas.

São alguns poucos exemplos como esses que me causam aquele incômodo com as “homenagens” recebidas hoje. Na prática, ao celebrar “o que somos”, elas acabam escondendo “onde estamos”.

Estamos dia a dia lutando por mais espaço. Por direitos garantidos. Por direito ao nosso corpo, à nossa vida, a uma remuneração justa pelo trabalho dentro e fora de casa. 

Sim, somos mulheres, mães, amigas companheiras, mas também somos trabalhadoras, negras, indígenas, quilombolas, LGBTQI+, camponesas, militantes, somos muitas em um caminho árduo, porém sem volta, em busca de equidade e representatividade.

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Jornalista, feminista e "anticapetalista"