Criança feliz, feliz a cantar…
Aposto que vocês cantaram também. Achei interessante chamar a atenção para o tema nesse mês, que é conhecido como o MÊS DAS CRIANÇAS. O mês no qual se levanta a importância de direitos como educação, saúde, vida digna, entre outros.
Também é um mês que o comércio fatura com venda de brinquedos. Por falar em brinquedos já vem uma primeira problematização, quando chegamos a uma loja para comprar algum presente, a primeira coisa que nos perguntam é: Qual idade e se é presente para menino ou para menina. Sério? Qual o problema de um menino brincar com uma boneca, uma cozinha de brinquedo, ou uma menina querer uma bola, um carrinho?
Desde cedo começam a separar, desde cedo começam a criar uma barreira de que mulher tem de fazer tal coisa e homem tem de fazer outra. Uma vez vi um pai brigar com um filho pois ele queria brincar com uma boneca de Frozen. Um desenho que ele deveria ter visto centenas de vezes.
Chá de revelação
Estas divisões começam antes mesmo da criança nascer, quem nunca viu pais fazerem o malfadado chá de revelação para anunciar, de maneira até patética, qual o genital da criança. E a partir desse momento ganhar roupinhas azul ou rosa e presentes delimitados.
Vale lembrar que, Jenna Karvunidis, considerada a criadora do chá de revelação, arrepende-se de ter ajudado a criar essa moda: “Hoje, abordamos esse assunto de uma forma diferente do que há uma década. O sexo do bebê é apenas uma questão de anatomia. Não deve ser algo que limita nem define uma pessoa. É o mesmo que anunciar que uma criança tem cabelo loiro ou olho azul. O que importa o que um bebê tem entre as pernas?”
Jenna completa dizendo: “Antes, pessoas que não se enquadram nos padrões de gênero não eram tão visíveis, mas hoje temos amigos e familiares que se identificam assim, e esse tipo de chá faz com que elas se sintam excluídas dos nossos costumes”. Hoje, Jenna Karvunidis é mãe de três meninas e diz que a maior reviravolta em toda essa história é que sua filha mais velha, Bianca, a bebê do primeiro chá de revelação, é hoje uma garota que não segue os estereótipos associados a meninas.
Jenna ainda diz que, na maioria das vezes, Bianca dá lições a seus pais sobre gênero. “É ela que fala para a gente que não há coisas de meninos ou de meninas e que existe uma série de gêneros e sexualidades. Não tinha pensado nisso antes. Nós ouvimos e assimilamos isso. Seria legal se mais pais fizessem isso”, afirma.
Outras práticas
No Brasil e em outros países, ainda bebês, se fura a orelha de pessoas designadas meninas ao nascer com intuito de deixar claro que mesmo usando uma roupa amarela, por exemplo, você informa a um desconhecido qual o sexo biológico daquela criança.
Crianças trans
Vamos falar de crianças trans, isso mesmo, elas existem, ou vocês acham que nós somos clones e não tivemos infância? Muitas de nós, eu inclusive, sofremos muito por não poder ter nossas identidades reais respeitadas, sofremos bullying e agressões de todos os tipos, para que deixarmos de sermos femininas ou “afeminadas”.
Temos de ter em mente que em muitos casos as crianças demonstram ser trans já muito jovens, não adianta levar à médicos, psicólogos para tentar impedir de serem o que são. Não adianta aplicar castigos, elas simplesmente são. Assim como não existe cura hetero também não existe cura cis.
Como falei lá em cima crianças trans também possuem direitos como todas as outras, elas precisam ser respeitadas, elas precisam acompanhamento de educadores e psicólogos sim, mas para que tenham sua individualidade respeitada, elas precisam acompanhamento para que no momento certo possam fazer sua transição.
Ideologia de gênero
Não existe em lugar nenhum um protocolo no qual se dá hormônios para crianças. Na verdade, o momento certo se dá bloqueadores que retardam a puberdade e por volta dos 16 anos, no Brasil, para elas possam reafirmar quem são e não desenvolvam características relacionadas ao gênero que lhes foi imposto ao nascer. O que se faz na verdade, é deixar que elas decidam, é deixar que sejam respeitadas.
Existe muito preconceito e desinformação, se fala em IDEOLOGIA DE GÊNERO, mas o que temos é um total desrespeito as crianças que se identificam como trans na primeira infância. Ideologia de gênero é obrigar alguém a não poder ser quem ela é. É oprimir e causar sofrimento a um público tão vulnerável.
É muito fácil ignorar a existência de crianças trans, pois ainda há uma ideia que elas são propriedades dos pais, e que devem seguir seus desígnios e realizar sonhos. Sabemos que essa não é a realidade, sabemos que para criança realmente ser feliz a cantar, deve ser ouvida e consultada. Elas mais que ninguém sabe quem são de verdade.
Fica aqui a reflexão para pais, educadores, médicos, psicólogos, vocês respeitam as crianças ou apenas querem que elas sigam um padrão cisnormativo que nunca as farão realmente felizes?
Para saber mais:
- Perfil no instagram: @minhacriancatrans
- Reportagem com Jenna Karvunidis