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Nenhum momento de paz

30 de novembro de 2021

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Nenhum momento de paz

Caro leitor, primeiro gostaria de avisar que este texto abordará temas delicados, portanto, fica aqui o aviso de gatilho.

Todos sabemos como é penosa a vida de pessoas trans, já falamos aqui das dificuldades, dos anseios e de vários desafios que passamos para simplesmente existir. A vida de uma pessoa trans tem sido muito penosa e infelizmente agora até o “descanso final” se tornou uma forma de desrespeitar as vivências trans.

Recentemente, tivemos em Aracaju um caso que causou revolta no meio LGBTQIAP uma mulher trans em seu velório teve sua identidade de gênero vilipendiada. Familiares que nunca aceitaram sua real identidade a vestiram de homem e inclusive fizeram uma barba falsa, para que ela emulasse alguém do gênero masculino.

Isso é desumano, quando você assume sua identidade pretende que ela seja respeitada, que as pessoas lhe deem dignidade. O que foi feito além de cruel é crime. Para quem não sabe há tipificação no código penal para vilipêndio de cadáver, no artigo 212, no qual versa desrespeito aos mortos. Portanto, o que foi feito é um crime em vários aspectos.

DIGNIDADE

Felizmente há iniciativas para que o nome social e identidade de gênero sejam respeitados após a morte da pessoa. Em janeiro de 2021 foi sancionada Lei nº 6.804.2021 de autoria do deputado Distrital Fábio Felix, que garante respeito do nome social de acordo com à identidade de gênero de pessoas trans e travestis nas lápides de túmulos, certidões de óbito e outros documentos. Segundo a mesma lei, em cerimônias fúnebres também deve haver respeito a identidade social. A lei assegura este direito mesmo quando o nome registrado em documentos de identidade civil diverge do nome social.

Também há proposta parecida em Aracaju, projeto de lei impetrado pela vereadora Linda Brasil, que ficou chocada com desrespeito com sua conterrânea tão odiosamente tratada. Enquanto não temos a conscientização de familiares, esperamos que outras ações similares ocorram, principalmente em âmbito federal, para que não fiquemos a mercê da boa vontade de familiares preconceituosos.

Lamentavelmente há um ódio bem disseminado em várias famílias contra pessoas trans e travestis. Seja por questões religiosas ou pessoais, simplesmente ignoram nossa vivência, nossa liberdade de sermos quem somos. Segundo os ritos de muitas religiões o velório é a última forma de homenagear uma pessoa, e em vez de você dar respeito, consegue ser vil e grotesco com ela.

Fica aqui um conselho, se você realmente ama e quer alguém querido em paz, diga em vida, diga o quanto ela era especial e demonstre pelo menos respeito por suas escolhas. Pense que ela apenas quer os direitos de ser feliz, viver e morrer com dignidade.

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Fabris Martins, mulher trans, publicitária, designer e podcaster.