Colunas Mulheres Podcasters

Entrevista: Ira Croft

22 de maio de 2020

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Entrevista: Ira Croft

Resolvemos reativar esta coluna de #MulheresPodcasters para divulgar as pessoas que estão por trás dos programas que conhecemos.

Nestes últimos cinco anos, mulheres que produzem podcasts têm ganhado mais notoriedade e espaço na mídia, havendo um crescimento importante na diversidade e qualidade dos programas, conforme demonstra a última pesquisa (2019) da ABPOD.

Há um ano, fizemos uma lista de 200 programas com Mulheres Podcasters. Essa lista foi apurada até o fim de 2018 de forma manual e coletiva e foi graças a união de várias mulheres comprometidas em usar e divulgar a hashtag #MulheresPodcasters e se engajar em campanhas como O Podcast é Delas (que falarei em outra entrevista), que conseguimos coletar dados suficientes para montar uma lista que segue em crescimento.

E se vamos falar de Mulheres Podcasters, é importante começar pela origem do termo e da hashtag… vamos falar de quem criou a #MulheresPodcasters.

Quando conheci Ira Croft, mal sabia sobre sua história. Eu tinha compromissos em São Paulo e ela aproveitou minha ida para um encontro. Nos conhecemos em um evento sobre Mulheres Digitais em 2017 e para mim, Ira era uma referência na mídia podcast, seja pela antiguidade, seja pela influência.

Ira, de origem humilde, ao contar sua história, se descreve como “uma pequena mulher que saiu da periferia rural para a capital paulista acreditando na oportunidade da cidade grande. Formada em ciências contábeis e pós graduada em gestão e marketing através de bolsa estudantil conseguiu migrar para a comunicação digital somente após conseguir fazer uma extensão em marketing e propaganda com especialização em mídia digital”.

A história dela é compartilhada vez ou outra em seu Twitter, que se tornou um canal de incentivo às mulheres que escutam e produzem podcasts. Recentemente, ela comemorou seu aniversário de 10 anos na mídia, onde já atuou “como apresentadora, produtora, editora e palestrante de podcasts, participei de 6 programas de outros proprietários e criei 7 programas independentes, atualmente sou co-produtora do Mundo Freak e criadora da hashtag #MulheresPodcasters”.

É comum ouvirmos por aí que são poucas mulheres na mídia, que somente as mais famosas são conhecidas. Questionada a respeito do motivo para a criação da hashtag #MulheresPodcasters, Ira informa que a iniciativa veio pra quebrar isso, pois “a intenção foi simples e objetiva, divulgar podcasts feitos ou apresentados por mulheres nas redes sociais. A expectativa era de que apenas as minhas amigas fossem usar e não imaginava que tantas outras pessoas iriam abraçar essa ideia”. Ela  completa que, como quase tudo na internet, “tanto a hashtag quanto outras ações mostraram que as mulheres tiveram um grande desenvolvimento na mídia, como produtoras e principalmente divulgadoras, delas e de outras mulheres”, ou seja, a sororidade digital importa muito neste processo de compartilhamento de dados e programas.

É difícil mapear algumas ações quando não se tem recursos para isso. Lamentavelmente, programas de acompanhamento de hashtags e dados na internet são caros e não há incentivo financeiro por ora. A própria criadora cuida disso, dentro das suas possibilidades: “Faço pontualmente e manualmente (o acompanhamento), como as ferramentas de monitoramento e relatório analítico são pagos e eu não tenho investimentos para mapear e analisar, eu faço apenas em épocas de ações mais intensas ou quando necessário”.

Apesar de sua influência e de ser considerada como referência para muitas mulheres que estão começando seus podcasts, a própria Ira diz que esta é uma tendência natural e contínua de quem produz conteúdo e se inspira em alguém: “acho muito complicado eu mesma falar sobre isso porque é muito egotrip, acredito que o meu trabalho como mulher podcaster influenciou outras pessoas da mesma forma que fui influenciada por diversas mulheres, é como uma rede, quando uma mulher fala COM outras mulheres, mais mulheres se sentirão à vontade para falar e serem ouvidas” e completa que apesar de em menor proporção, quando começou a fazer podcast existiam mulheres que estavam presentes e conhecidas fazendo podcast, que também serviram de influência e inspiração para ela.

Provocada pra uma previsão otimista sobre o panorama da presença de mulheres na mídia daqui a cinco anos, Ira é realista: “Eu percebo que as mulheres podcasters cresceram muito mais em qualidade do que em quantidade, mesmo quando não aparecemos em igualdade de 50%, amadurecemos bastante a qualidade de conteúdo gerado na mídia como um total. Além disso, o crescimento da mídia envolve variáveis externas que dependem de investimento e transformação social com mais urgência, como a rede de internet do Brasil e o alcance das informações à população”. 

Gostou dessa entrevista? Saiba que agora temos uma coluna mensal entrevistando mulheres que estão produzindo podcasts e também uma lista sobre Mulheres Podcasters em nosso site, que está em processo de ampliação. Para deixar este conteúdo mais diverso, valorizar e contemplar mulheres que produzem podcasts de forma independente, estamos apoiando a pesquisa sobre as mulheres que estão produzindo conteúdo no Brasil. Nos ajude a conhecer você e seu programa respondendo a Pesquisa #MulheresPodcasters

Apresentadora e produtora do Olhares Podcast, é também mestranda em Direitos Humanos, pesquisadora e consultora em gênero e diversidade, palestrante e advogada.