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Esporte, um ambiente de integração social?

29 de janeiro de 2020

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Esporte, um ambiente de integração social?

Mais uma vez pessoas trans são atacadas nas redes sociais. Dessa vez o presidente Jair Bolsonaro questiona a participação de atletas trans em competições esportivas, alegando que há uma desvantagem física e usando os argumentos amplamente rebatidos por médicos e fisiologistas.


Um dos casos mais emblemáticos é o da jogadora de vôlei Tiffany do Sesi Bauru que, após ter realizado excelentes partidas, foi chamada de “homem” pelo técnico do time adversário.


Acontece que há regulamentações dentro do Comitê Olímpico Internacional, assegurando a participação de mulheres trans desde que possuam determinados índices de testosterona no sangue. No caso de Tiffany é mais baixo que o de mulheres cisgêneros.
Estudos apontam que há sim uma perda significativa de força e potência em atletas trans que passam pela terapia hormonal. Desta forma nivelando os resultados em esportes de alta performance.
Outras atletas cis tiveram desempenho muito superior ao de Tiffany e nem por isso foram taxadas de homens, ou estavam com índices hormonais irregulares. Este detalhe evidencia o claro viés preconceituoso em relação a atletas trans dentro do esporte.
É preciso salientar que especialistas são categóricos em afirmar que não há vantagens para atletas transexuais em comparação a atletas cisgênero em nenhum estágio de suas transições. E que pela ínfima participação de pessoas trans no esporte, de forma alguma haveria uma maior participação de pessoas trans em detrimento de mulheres cis.

Atletas de base


Não apenas atletas das modalidades mais conhecidas sofrem transfobia. Um caso que comoveu o País foi da menina Maria Joaquina, atleta da patinação artística, que foi impedida de participar de um torneio de base da modalidade. Vale salientar que nesse caso é ainda mais evidente o viés transfóbico. Pois devido à idade da atleta não há nenhuma ação de hormônios masculinos. E de forma alguma isso gera qualquer benefício à atleta que não passou sequer pela puberdade.
Nesses casos o que vemos é o mais puro preconceito, uma noção equivocada de que pessoas trans são trapaceiras e estão fazendo isso para poder obter alguma vantagem. Devemos questionar não atletas, mas sim quem usa desculpas estapafúrdias para poder segregar e afastar pessoas trans do esporte.
É óbvio que há sim preconceito, que se tenta mascarar usando argumentos que beiram a leviandade. Outro ponto a ser questionado é que se pessoas trans que fizeram uma transição tardia incomodam tanto dentro do esporte, porque criar barreiras para que a transição de gênero seja feita no período da puberdade?
Para finalizar lembro que segundo os preceitos básicos, o esporte deveria ser ambiente de inclusão social, um espaço para enfrentar e combater o preconceito, no entanto tem sido o contrário. Vale lembrar que o processo de transexualização é árduo, várias mudanças no corpo são penosas, além dos riscos de depressão e outras doenças, e que se submeter a isso apenas para ganhar medalhas creio que seria totalmente irracional.

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Fabris Martins, mulher trans, publicitária, designer e podcaster.