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Os ventos da mudança

17 de novembro de 2020

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Os ventos da mudança

Após as eleições presidenciais de 2018, na qual o medo e o ódio assolaram o país, muitas pessoas trans simplesmente perderam o rumo, dias sombrios estavam por vir.

A extrema direita era um perigo real e imediato para todos, todas e todes que almejavam simplesmente serem felizes. Após dois anos, muitos dos prognósticos se tornaram realidade, a perseguição e falta de amparo governamental se tornaram uma constante.

Como toda ação gera uma reação, os movimentos LGBTQIA+ se organizaram, chapas com mandato coletivo se tornaram mais comuns, pessoas trans resolveram provar que são resistência e entraram para o mundo da política. Sair do anonimato se tornou um ato de quase desespero, por a cara ao sol se tornou a única forma de luta.

Segundo o TSE, o número de candidaturas de pessoas trans e travestis aumentaram cerca de 273%, chegando ao número de 310, ao contrário do último pleito municipal em que foram apenas 83. A representatividade se tornou uma resposta ao desamparo e perseguição sofrida no atual governo. Tendo em vista estes números era de se esperar um avanço também no número de eleitos, mesmo que tímido, qualquer pessoa trans que galgasse um bom resultado seria algo a se comemorar.

Vitórias expressivas

Seguindo os ventos mais progressistas que sopraram na América Latina, algo muito alvissareiro aconteceu, várias mulheres trans conseguiram ser eleitas. A surpresa começou apenas duas horas após o fechamento das urnas. Essa primeira boa notícia foi a eleição de Linda Brasil (PSOL/SE), que foi a primeira mulher trans eleita vereadora em Aracaju/SE, ela ficou em primeiro lugar no pleito com 5.773 votos.

Outra vencedora incontestável é Duda Salabert que já havia conquistado números expressivos como candidata ao Senado em 2018. Dessa vez, ela veio como candidata a vereança de Belo Horizonte. A conservadora capital mineira, surpreendeu, e deu 37 mil votos à candidata. Além de ter sido a mais votada no pleito, ela fez história sendo a candidata com maior número de votos em toda a história da capital mineira. Além de mulher trans, Duda é vegana e defensora ambiental, e se orgulha de ter feito uma campanha com lixo zero.

Fechando o Giro das capitais, chegamos a São Paulo, a maior cidade do País tomou conta dos noticiários pela surpreendente ida de Guilherme Boulos ao segundo turno. No entanto, o que não se comenta tanto é a brilhante vitória de Erika Hilton, que foi a mulher mais votada na cidade, obtendo mais de 50 mil votos, ficando à frente de nomes conhecidos da política paulistana. Ela foi a primeira mulher trans eleita para o cargo. Após o anúncio de sua vitória, fez questão de enfatizar sua origem e o ineditismo de seu feito. Também em São Paulo Thammy Miranda foi eleito para o cargo.

Pelo Brasil afora

Segundo a Associação Nacional de Travestis e transexuais (Antra), o número de pessoas trans eleitas já são 26. Além das citadas anteriormente temos: Anabella Pavão (PSOL) Batatais/SP, Benny Briolly (PSOL) Niterói/RJ, Brenda Ferrari (PV) Lapa/PR, Carolina Iara (Bancada Feminista do PSOL) São Paulo/SP, Dandara (MDB) Patrocínio Paulista/SP, Filipa Brunelli (PT) Araraquara/SP, Gilvan Masferre (DC) Uberlândia/MG, Isabelly Carvalho (PT) Limeira/SP, Kará (PDT) Natividade/RJ, Lins Roballo (PT) São Borja/RS, Lorim de Valéria (PDT) Pontal/SP, Maria Regina (PT) Rio Grande/RS, Myrella Soares (DEM) Bariri/SP, Paulette Blue (PSDB) Bom Repouso/MG, Paulinha da Saúde (MDB) Eldorado dos Carajàs/PA, Rebeca Barbosa (PDT) Salesopolis/SP, Regininha Lourenço (AVANTE) Araçatuba/SP, Samara Santana (PSOL) Quilombo Periférico – São Paulo/SP, Thabatta Pimenta (PROS) Carnaúba do Dantas/RN, Tieta Melo (MDB) São Joaquim da Barra/SP, Titia Chiba (PSB) Pompeu/MG, Yasmin Prestes (MDB) Entre-Ijuis/RS

Nem todas pessoas eleitas podem ser consideradas dentro do espectro de esquerda, ou progressistas, mas devemos louvar o fato de representarem um avanço claro no entendimento da população, mesmo em cidades menores, de que independentemente de nossa identidade de gênero podemos representar os cidadãos destes e outros municípios.

Tal qual as folhas do outono caem em novembro, as máscaras do ódio e ressentimento estão sendo varridas. Um sopro de esperança paira no ar, um ar de liberdade pode ser sentido. Que estes sejam apenas os primeiros de muitos casos de representatividade, que este seja o início de uma sociedade que respeite pessoas trans, e que evolua no entendimento da necessidade de termos representantes em todos níveis na política partidária.

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Fabris Martins, mulher trans, publicitária, designer e podcaster.