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Verdades e números pouco convenientes

11 de junho de 2021

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Verdades e números pouco convenientes

No dia 17 de maio se celebra o DIA INTERNACIONAL CONTRA LGBTQIAfobia, um dia de luta, para demonstrar repúdio a essa barreira que acomete as pessoas que não são exatamente como a maioria da sociedade gostaria que fossem. O que mais se viu foram empresas colocando bandeiras do arco íris nas suas marcas, postagens de apoio à causa.

Tudo isso é muito tocante, o que não podemos esquecer é que boa parte dessas empresas perpetuam o preconceito, fazem vistas grossas para com atos criminosos, não contratam pessoas LGBTQIA+ em geral. Sempre há uma desculpa para não agir contra o preconceito e a discriminação. Além disso, vários “CEOs” de grandes empresas compactuam com governos de extrema direita.

Das letras da sigla sem dúvida a “T” é a que sofre mais resistência, apenas 5% das empresas contratam pessoas trans com carteira assinada. Temos de ter em mente que menos de 1% das pessoas trans conseguem adentrar a faculdade, e o percentual que acaba concluindo o curso superior é irrisório.

ESTATÍSTICAS

Para se ter ideia, a idade média com que pessoas trans são expulsas de casa é menos de 15 anos, ou seja, são crianças jogadas ao relento. Não se pode de forma alguma fechar os olhos, temos sim pessoas trans que cada vez mais cedo se descobrem e precisam de apoio. Nós temos de ter políticas de acolhimento e principalmente de conscientização das famílias sobre essas questões, está na hora de parar de fechar os olhos.

Os dados são assustadores: 175 pessoas trans foram assassinadas no Brasil em 2020, a média equivale a uma a cada 3 dias. O país concentra cerca de 40% dos homicídios. Para se ter uma ideia a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos de idade, enquanto a média nacional é de 75 anos.

A vida de uma pessoa trans se divide em se assumir, e estar relegada às mazelas do mundo, ou ficar presa na sua agonia diária, sem perspectiva de transição, e cumprir os rituais impostos pela sociedade. Não são raros os casos de pessoas que se assumem depois dos 40 anos de idade, quando já possuem carreira, quando já possuem uma certa estabilidade.

Nestes momentos da vida, a pessoa já chegou no limiar do sofrimento, já não aguenta mais, ou sucumbe. E muitas vezes ou se comete atos impensados como o suicídio ou se resolve encarar sua verdade existencial. Chega de tapar o sol com a peneira, chega de esconder para o mundo quem somos.

EMPREGABILIDADE

Vale ressaltar que a mesma reportagem escrita por uma pessoa cisgênero pode ser escrita por uma pessoa trans, um hambúrguer pode ser feito pelas pessoas independente de seu gênero, temos de ter em mente que habilidades e defeitos não são privilégios entre as pessoas seja qual for sua orientação sexual ou sua identidade de gênero.

Há quem diga que transgêneros possuem opção, mas esquecem que até mesmo nos trabalhos mais precarizados elas são excluídas, ou será que você caro leitor, conhece alguma pessoa que contrataria uma mulher trans para ser doméstica ou babá. Se até mesmo num ambiente público viram a cara para nós, imagina ter alguém na própria casa cuidando dos seus filhos.

Não existem trabalhos proibidos para ninguém, exceto para a pessoa trans, infelizmente é uma verdade que deve ser dita. O preconceito é enorme e não contratar alguém por um motivo que não seja seu currículo é simplesmente criminoso.

Fabris Martins, mulher trans, publicitária, designer e podcaster.