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O seu nome escrevi na areia…

22 de outubro de 2020

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O seu nome escrevi na areia…

Aposto que você leu no ritmo daquela velha canção. O cérebro nos prega estas peças, evoca lembranças, e isso é normal.

Muitas vezes ficamos anos com algo no inconsciente e o menor sinal traz à tona estas lembranças.
Às vezes você pode conhecer uma pessoa antes da transição, e passar anos sem falar com ela, sendo assim o referencial fica sendo aquela imagem que você tinha no passado, nome, trejeitos, fisionomia, apelidos, tudo será como se o tempo não tivesse passado.
Felizmente nós mudamos, evoluímos, damos asas aos nossos sonhos, acho que isso torna a humanidade interessante. Não se conformar com certas imposições, poder se rebelar é um ato de coragem.
Talvez um dos momentos mais difíceis e marcantes de quando se transiciona é a escolha do nome, ele carrega uma gama de significados, seja uma homenagem, seja algo que te marca, ou apenas se opta pela praticidade.
Tendo isso em mente, o respeito ao nome da pessoa trans é fundamental. Lembre-se sempre de respeitar o desejo dela, portanto, sempre pergunte qual o pronome e qual o nome pelo qual ela deseja ser conhecida. Caso você conheça alguém desde antes da transição seja sensível e não a trate pelo “dead name” (nome de registro), isso é uma agressão sem limites.

Não são raros os casos de pessoas que se dizem amigas cometerem estes erros, seja o gênero, seja o nome. Sinceramente sabemos quando é de propósito e quando é sem querer, isso fica bem claro já na entonação.
Lembrem-se de quantos artistas não usam nome de batismo e você respeita. Quantos apelidos de jogadores de futebol viraram referência. E você continua respeitando. Não é difícil, basta ter um pouco de sensibilidade. Um pouco de noção de como tratar alguém por seu nome social pode ser benéfico.

Burocracia

Após decisão do Supremo a troca de nome e gênero se tornou um processo mais simples, basta ir ao cartório e seguir os passos por eles recomendados, no entanto, a burocracia continua grande: não há um sistema integrado, é necessário fazer uma peregrinação desde uma nova identidade até ir ao exército dar baixa no certificado de reservista.

Leia mais sobre o assunto no texto Um (pequeno) passo a frente na luta feminista na nossa coluna Mulheres e o Direito

Mas nada disso importa para nós que almejamos ser reconhecidas por nosso gênero e nome desejados. Obstáculos maiores que estes enfrentamos todos os dias, mas isso não nos impede de seguir em frente de cabeça erguida.

Fabris Martins, mulher trans, publicitária, designer e podcaster.